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Discurso de Despedida


Prezados Amigos,


No ano de 2014, a Terra da Sobriedade (TS) promoveu profundas alterações em seu Estatuto Social, buscando adequar-se aos pré-requisitos legais, regulamentares e contratuais, atualmente exigidos às organizações do Terceiro Setor, para melhorar sua atuação social.


A primeira alteração substitui sua própria razão social, que passa a ser denominada Terra da Sobriedade – Associação de Atenção à Dependência Química.


Esta mudança visa atender ao modelo de gestão com foco na excelência, que privilegia a simplicidade e a agilidade para a transmissão das informações institucionais.


A segunda, a mais importante e expressiva, deu-se na Governança Corporativa da Organização, sempre assumida por voluntários, que deixa de contar com as 5 (cinco) diretorias executivas, para doravante, constituir-se pelo Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Diretoria Superintendente, mantendo inalterada a hegemonia da sua Assembleia Geral, como preconiza o Novo Código Civil Brasileiro.


Na sua Assembleia Geral Extraordinária, realizada em 20 de Julho de 2014, como resultado de um cuidadoso processo, iniciado ao final de 2013, deu-se a transição da superintendência da Terra da Sobriedade, quando Ana Luiza assumiu o cargo de Diretora Superintendente.


Esta nova estrutura de administração, acredita-se, agilizará o processo decisório e permitirá à TS adaptar-se mais facilmente às exigências do novo Marco Regulatório das entidades do Terceiro Setor nacional.


Após esta modernização, a liderança da Terra da Sobriedade meditou sobre as estratégias a serem adotadas para um futuro de curto e médio prazos, concluindo, então, pela conveniência de focar a atual gestão na preservação dos valores que motivaram a criação da Entidade. (No seu íntimo, reflita sobre quais são estes valores?)


No processo histórico de seu crescimento, esta organização desdobrou-se, até o seu limite, para se manter como “família” e como modelo de Comunidade Terapêutica, alcançando reconhecimento público, premiações e méritos, tornando-se referência nacional nas áreas de Prevenção e Tratamento da Dependência Química.


Em 2009, a Terra da Sobriedade firmou uma parceria com o Governo do Estado de Minas Gerais, através do Termo de Parceria nº 024/2009, para desenvolver o Programa Papo Legal – Diálogos Comunitários para a Prevenção do Uso de Drogas.


Por força de Lei, o cumprimento deste Termo de Parceria carrega exigências extraordinárias para o alcance das metas pactuadas. A contaminação jurídico-legal de regras não compatíveis entre a atividade privada, já sedimentada internamente, e a ação governamental, introduzida pela Parceria, atingiu, em alguns momentos, níveis insuportáveis para a parcela da instituição diretamente envolvida com as rotinas dos demais programas desenvolvidos na Terra da Sobriedade.


Neste momento, o novo Corpo Dirigente da Entidade, entendendo que as atividades anteriores ao Programa Papo Legal necessitam de maior ênfase – sobretudo porque foram exatamente elas que levaram o Governo do Estado a convidá-la para desenvolver a Parceria – tomou a difícil decisão de interrompê-la, por decurso de prazo, no próximo dia 31 de Dezembro de 2014, já que o Governo do Estado de Minas recusou-se a uma rescisão por acordo entre as partes.


Por outro lado, ao desenvolver o Programa Papo Legal, na sua operacionalização, foi possível promover a multiplicação da metodologia utilizada pela Terra da Sobriedade, tanto entre os atores locais dos Municípios contemplados quanto destes para com os respectivos Municípios circunvizinhos.


Poucas pessoas sabem, mas este projeto foi desenvolvido com os mesmos fundamentos utilizados na institucionalização da Comunidade Terapêutica da Terra da Sobriedade, que, de resto, são os mesmos utilizados em qualquer Comunidade Terapêutica – CT. Talvez, a grande diferença da Terra da Sobriedade, em relação à maioria das outras CTs, seja sua origem no seio de uma família e, também, o compromisso, imprescindível e indispensável, com o aprimoramento técnico-científico sobre este “modelo de atenção”. Infelizmente, por vaidades e disputas de poder político, esta é uma das características da Terra da Sobriedade menos requisitada pelos órgãos de controle e de normatização, ou por aqueles que representam as Comunidades Terapêuticas. Poder-se-ia ajudar muito na construção de documentos consistentes sobre esta questão. Os interesses das lideranças políticas são voltados, quase sempre, para a exploração dos resultados alcançados e, além de ser dado a fazer festa com o chapéu dos outros, dá a tudo um tom inaugural. De fato, esta CT tem muita visibilidade, pois são muitos os testemunhos de superação. Ao contrário do que deveriam fazer, estes líderes não se inclinam ao nosso saber e, por isto, não conhecem a razão de nossos êxitos. Permitam-me aqui esclarecer, por causa da ignorância de muitos profissionais, que quando me refiro à Comunidade Terapêutica, não estou me referindo a manicômio, Comunidade Terapêutica não é Manicômio como, erroneamente, insiste o Conselho Federal de Psicologia em apregoar no vídeo “Drogas e Cidadania – Episódio 3: A volta dos Manicômios”, publicado no seu site oficial http://site.cfp.org.br/multimidia/videos/


Confiar na descentralização e na participação popular, como eixos centrais do processo de democratização da gestão pública das questões relacionadas com o uso de drogas, como fizemos acontecer nos Municípios atendidos e, também, reconhecer que o Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas é o locus de articulação para a definição e formulação de Políticas Públicas, garantiram a colheita de frutos do trabalho realizado pelo Projeto Papo Legal.


Falando de uma maneira simples, como nos ensinou o Professor Rui Chamone Jorge, o que fizemos foi, simplesmente, ‘explorar ao máximo o menor potencial remanescente’ em cada serviço, entidade ou cidadão que visitamos, somando-se este princípio ao que aprendemos com os programas de recuperação de AA e NA: promover a ‘ajuda-mútua, através de serviço, para ajudar àqueles que sofrem em decorrência do uso de álcool e outras drogas’.


Com muito orgulho e o sincero sentimento de dever cumprido, agradeço, de modo especial, a todos os técnicos contratados, aos voluntários da Terra da Sobriedade, aos “Atores Locais”, sejam eles públicos ou representantes da sociedade civil, que caminharam conosco, desde antes da criação da Terra da Sobriedade, para a construção de uma Política Pública sobre Drogas mais humanitária e realista, nos Municípios mineiros; a todos aqueles que colaboraram para a assistência dada a cada família necessitada, que nos requisitou ajuda; àqueles que se colocaram corajosamente diante de cada criança, que foi salva da miséria cultural, econômica e afetiva, aqui, na ‘Sobriedade’, como aconteceu para alguns dos antigos moradores da Favela do Índio.


Não poderia deixar de dizer “muito obrigado” a toda a minha família: Ana Luiza, Thiago, Rui, Felipe, Mariana e Ângelo, que “ralaram” dia-a-dia, destituindo-se a própria família, para edificar e restaurar tantas outras famílias, nesta grande obra, que cresceu no, anteriormente, chamado ‘Sítio do Vô Donato’, ou ‘Casa de Ronaldo e Ana Luiza’, ou ‘Casa das Pedrinhas’, ou ‘Casa do Doutor”, hoje, Terra da Sobriedade. Incluo especial reconhecimento ao meu pai, à minha mãe e a meus irmãos, que, durante todos estes últimos 20 anos, não cobraram nem sequer um centavo, para que a minha família e a Terra da Sobriedade pudessem ser criadas, aqui, neste pedaço do paraíso terrestre. Ainda, agradeço meu sogro e minha sogra, sempre presentes e apoiando a realização de nossos sonhos, aos meus cunhados e a tantos outros que se tornaram parentes, ao longo de toda a existência da Terra da Sobriedade.


O reconhecido sucesso deste ‘Templo de Recuperação’ é mérito de todos estes protagonistas. Os resultados falam por si só. Algumas destas pessoas, se encontram aqui, agora, e eu carinhosamente peço o seu testemunho. Suplico, apenas, que não digam obrigado à minha pessoa. Partilhem a satisfação de, hoje, serem conscientes e senhores de sua própria vida e falem, de coração aberto, identificando-se ou não, em que, e como, eu, minha família e a Terra da Sobriedade o ajudamos!


Acesse a página do nosso site e, todas as vezes que você se lembrar de algo importante da sua experiência de vida relacionada com o trabalho da nossa família, envie seu testemunho: conte ‘o caso’ para nós. O importante é o significado dele para você, mesmo que, a princípio, você ache que não tem nada a ver. Vale lembranças, fotos, fatos relacionados com qualquer membro da família Cesar Viana ou das outras famílias que você conheceu na Terra, com os técnicos, monitores, com os voluntários, com os pacientes, com os vizinhos, com outros serviços que existem, ou existiram, vinculados a esta obra e, principalmente, com sua própria consciência. Minha intenção é criar um Banco de Dados de testemunhos sobre o significado destas instituições – a família Cesar Viana e a Comunidade Terapêutica da Terra da Sobriedade – na sua experiência de superação dos problemas decorrentes do uso de drogas – BANCO DE VIDA_TS.


No futuro, ele poderá servir para o conhecimento das razões que levaram as pessoas à superação dos seus problemas relacionados com as drogas. Também, para sensibilizar os gestores públicos, de tal forma que eles empreendam todos os esforços necessários para a continuidade, aprimoramento e expansão desta iniciativa inédita, em nosso País e no mundo. E, ainda, para que você se responsabilize com o financiamento das despesas decorrentes deste trabalho, perenizando-o, como anseiam todos aqueles que dele participam. A maior riqueza que temos é a sua história de vida, invista neste “Banco”!


Renovando a crença de que a “Causa” é sempre maior do que seu eventual e temporal executor, agradeço o empenho, a seriedade e o respeito com que fui acolhido todos estes anos, principalmente, agradeço pelo privilégio de ter conseguido realizar uma ‘comunidade de amor’, como parte da missão de minha família, aqui na Terra – tanto a da Sobriedade quanto a de Deus, que, no meu entender, são as mesmas.


Que os voluntários dirigentes da Terra da Sobriedade possam empreendê-la com responsabilidade e coragem, mantendo os projetos hoje existentes e abrindo novos canais de comunicação com os beneficiários – de organizações governamentais ou não; familiares dependentes, ou não, para atender às necessidades das pessoas com empatia, informação contínua e integridade.

Encerro, fazendo uma confissão, sem desmerecer o valor de cada um de vocês: “de tudo o que fiz, em todo o tempo, nada fiz para qualquer um de vocês, pois trabalhei para Deus, conforme o concebo.”


Obrigado,


Belo Horizonte, 27 de Dezembro de 2014.


Ronaldo Guilherme Vitelli Viana


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