busca por uma vida melhor!!!
Com 12 anos comecei a fumar Maconha. No começo "não fazia mal algum", eu achava, e continuei ao longo dos anos. Isso contribuiu para começar a comprar drogas na favela. E como adolescente quer experimentar de tudo, era muito mais fácil, onde comprava tinha de tudo. Aos 16 anos resolvi experimentar a Cocaína. O uso era esporádico. Mas isso ia se repetindo aos finais de semana e fui conhecendo o êxtase, entre outras drogas. Tudo parecia normal, e bem aceito na sociedade que vivemos. Mais com o tempo foi aumentando muito meu consumo, e saindo do controle....com 22 anos começou o uso contínuo da Cocaína, e nada era mais tão normal quanto eu achava. Ai, minha filha nasceu com algumas complicações e isso foi mais uma justificativa minha para entrar de cara nas drogas. Mas, ainda assim, tinha uma vida +- e tive meu segundo filho. Foi então que resolvi tentar parar, mas parava de usar uma e substituía por outra... e não dava conta no final! Tinha uma empresa, há 6 anos já... e nada mais estava no controle. Antes de ir para a loja, às 7 hs da manhã, eu já usava substancia, e pensava que só assim conseguiria passar o meu dia tranquilo...e tudo foi desandando. Não cumpria mais com meus compromissos não olhava mais nos olhos das pessoas: eu era simplesmente um escravo. Não dei mais conta e fechei a empresa... e torrei toda a grana com drogas. Então, fiz uma prova no Google e comecei a trabalhar Home Office, o que piorou mais ainda a situação, pois não tinha horário nem rotina, e ganhava grana o bastante pra usar o quanto queria. Aí, meu relacionamento já estava acabado e minha namorada me mandou para fora da sua casa. Quando isto aconteceu eu já tinha 27 anos... e ja não estava mais dando conta do trabalho.... então, fui para um hotel e consumi muita substancia, ao ponto de torrar tudo que tinha... O dinheiro acabou e tentei voltar para casa da minha Mãe e Irmã... só que elas não me aceitaram com o uso, e com razão. Então fui para um hotel onde só tinham viciados e eu conseguiria pagar mais uma semana. Não dei conta. Fui na favela buscar cocaína e não tinha e quis então fumar pedra para experimentar, graças a Deus não gostei, e percebi que aquilo era meu fundo de poço, então resolvi procurar ajuda, mas não conhecia nada sobre tratamento e recuperação de drogas. Fui andando para o Hospital Raul Soares, onde pedi ajuda, então fui atendido por um pisiquiatra de plantão e relatei toda essa historia, e ele me encaminhou para urgência. Assim fui e lá era como uma enfermaria; tinha outros pacientes, todos deitados, e uma grande TV para assistir. Ai já começou com a medicação; dormi e acordei melhor, e me internaram junto com os demais pacientes... no começo, pensei que isso ia me ajudar a parar com o uso... ia ficar lá um tempo e voltar para sociedade. E foram passando os dias e eu tomando bastante remédio, manha-tarde-noite; eu não conseguia mais ter o controle de mim mesmo, pois estava totalmente drogado... e mesmo assim conseguia enxergar as coisas; lá tinha paciente com problemas mentais, depressivos, presidiarios, e viciados. Tudo junto. E vi que ali não tinha carinho nenhum com as pessoas, pelo contrário, todos eram tratados como animais. Para conter o paciente, eles usavam força, imobilizavam e até desmaiavam as pessoas; isso sem nenhuma resistência. E os dias foram passando e nada era trabalhado com psicólogos ou outros profissionais. Era só medicação, alimentação e um pouco de banho de sol, pela manhã e tarde. E o tempo foi passando e eles aumentavam cada vez mais a medicação, eu ficava babando, praticamente. E o único espaço que todos tínhamos era a T.O., que podíamos ver um pouco de tv, colorir, ou fazer colares... e a única pessoa que importava um pouco era a Terapeuta. Mesmo assim, aquilo era nada diante de centenas de pessoas buscando e precisando, realmente, de um tratamento adequado. Então entrei em contato com meus familiares e disse que tinha me internado e que gostaria muito de me tratar, até que foram me visitar e não acreditaram que eu estava naquele lugar e com pessoas com problemas muito diferentes dos meus. Eles ficaram extremamente aliviados de eu ter buscado ajuda e preocupados de não estar em um lugar adequado.. Foi quando minha irmã conheceu a Terra da Sobriedade, por indicações. Ela pediu para que eu participasse das reuniões, aos sábados. Eu já não quase respondia por mim, de tanta medicação já não raciocinava como antes. Então fui em minha primeira reunião na TS e gostei bastante... vi que tinha pessoas com os meus problemas que eu e o lugar era bacana, tinha uma ótima energia. Mas voltei para o hospital para continuar minha caminhada lá, até que conversei com psiquiatra, para me dar alta, pois ali não era um lugar adequado pra mim, e creio eu que para ninguém. Foi sugerido que eu continuasse indo as reuniões aos sábados, ate passar pela triagem da TS. De volta ao Raul Soares, em uma sexta feira, eu acordei de madrugada e fui ao banheiro....quando fui fazer xixi, uma pessoa gritou: - anda logo, que tô querendo morrer! Quando olhei para trás, tinha um interno com o lençol amarrado no pescoço e na janela do banheiro e, quando nos olhamos, ele pulou. Consegui segurar ele e gritar por ajuda... aquilo foi a última gota para mim. Ainda bem ajudei uma pessoa a não se matar naquele momento, mas aquele lugar que maltratava as pessoas e que o único tratamento era remédio estava me deixando louco. Meu psicológico já estava completamente abalado, e quando acabasse meu tratamento lá, a primeira coisa que iria fazer, eu creio, era o uso da minha substância de preferência... Então liguei para minha família e pedi para que deixassem eu voltar para a casa.... e que, mesmo assim, precisaria de ajuda. Consegui ir para TS. Comecei a fazer permanência-dia. E fui percebendo as pessoas, o tratamento, que tudo era completamente diferente daquele lugar onde estava... Ali, sim, eu acharia um caminho, um tratamento para viver recuperação! Hoje, com 4 meses tratamento na TS, já consigo até escrever um pouco dessa minha busca por uma vida melhor!